quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

SÔR, VAI CONTINUAR MEU AMIGO?

O escritor Umberto Eco, no final dos seus dias, disse que a internet deu voz aos imbecis. Acredito que isso seja verdade. Além de imbecilidades, também temos as notícias falsas. Tudo espalhado como a maior das verdades. Os imbecis produzem e outros, compartilham. Asneiras como o feminismo ser culpado pelo aumento da quantidade de gays e lésbicas no mundo, idiotices como os direitos humanos defenderem bandidos, estupidezes como a política de cotas tirar os direitos dos que são brancos ou, o mais ridículo, postagens de apoio às políticas de Donald Trump, feitas por brasileiros, que nunca conseguirão entrar nos Estados Unidos e desfrutar dos benefícios deste belo país.
Você poderia pensar: “Deixa esses imbecis pra lá! Manda eles à merda e exclui do seu facebook”! Mas, quando o “imbecil” é um aluno, ou ex-aluno seu? Que você acompanha ou acompanhou em aula, viu seus progressos, o ajudou pensar, a chegar a suas próprias conclusões. E, de repente, a conclusão que ele chegou é de que ele prefere viver sob a censura de uma ditadura do que ter “sua família morta por um vagabundo”.
A ditadura de 1964, acabou com os “vagabundos”? Ah, os vagabundos, esses seres sempre citados quando se quer defender um regime de exceção, o que seria do discurso de ódio se não fossem eles? Bolsonaro, Luís Carlos Prates, Oswaldo de Carvalho, Rogério Mendelski, esses caras devem tanto aos vagabundos!
Normalmente, caras como eles atacam regimes como o cubano ou o da Coréia do Norte. Haveria que se perguntar se nesses países, com suas políticas autoritárias, a “vagabundagem” tem vez. E, dependendo da resposta, haveria que se perguntar se esses caras estão interessados, então, em liberdade e democracia ou em punir os “vagabundos”.
Bom, o fato é que com frequência me envolvo em discussões de internet com meus alunos e ex-alunos. Todos, muito cedo, já se consideram de direita e anticomunistas, seja lá o que isso signifique. Numa dessas, terminando uma conversa, onde discutimos muito, o menino me escreve: “Sôr, vamos continuar amigos, né”? Como posso eu tratá-lo? Como um imbecil? Como um fascista? Claro, que eu disse que continuaríamos amigos. E o que mais eu diria? Sei que a educação é um caminho sem fim, basta manter a cabeça aberta e você sempre aprenderá. Segundo Paulo Freire, você só para de aprender quando achar que já sabe tudo. Eu acredito nisso.

Sempre fazer perguntas, e mais perguntas, quando encontrar um discurso de ódio pela frente. Escolhi fazer meu enfrentamento dessa maneira. Principalmente quando a fonte de reprodução desse discurso, diante de mim, for um aluno.  

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