O silêncio. Por que
ele perturba tanto? As pessoas quase sempre se sentem constrangidas,
quando reunidas em um ambiente silencioso. Elas observam-se umas as
outras, olham ao redor, tamborilam com os dedos… enfim, não ficam
confortáveis. Para aquelas que gostam de uma boa conversa, essa situação
pode ser uma tortura.
Raramente
encontramos um ambiente assim em uma sala de aula. E nessas raras
vezes que isso acontece, o silêncio dura, talvez, um minuto. Sempre
há alguém para dizer a famosa frase: “que silêeeencio”…
Na turma do Leonandro, ele quebrava o silêncio de um jeito diferente. Durante as aulas, enquanto eu expunha o trabalho do dia, ou enquanto a turma realizava uma atividade, num raro momento de concentração, sempre escutava a voz dele: “Beterraba”! Ou, às vezes, era: “Repolho”! A turma toda caía na gargalhada e era uma vez a aula que estava tentando dar, tudo ia pro ralo. Ele falava essas coisas sem sentido... nomes de legumes... pfff.... Não sei se ele tinha alguma horta em casa, ou se a família vendia verduras pelas ruas, como aqueles caminhões que passam pelos bairros periféricos, gritando os nomes dos produtos, sei lá.
Na turma do Leonandro, ele quebrava o silêncio de um jeito diferente. Durante as aulas, enquanto eu expunha o trabalho do dia, ou enquanto a turma realizava uma atividade, num raro momento de concentração, sempre escutava a voz dele: “Beterraba”! Ou, às vezes, era: “Repolho”! A turma toda caía na gargalhada e era uma vez a aula que estava tentando dar, tudo ia pro ralo. Ele falava essas coisas sem sentido... nomes de legumes... pfff.... Não sei se ele tinha alguma horta em casa, ou se a família vendia verduras pelas ruas, como aqueles caminhões que passam pelos bairros periféricos, gritando os nomes dos produtos, sei lá.
Mas essa não era a
única coisa estranha em relação a ele. Leonandro era um personagem
bem curioso. Gordinho, tinha a cabeça enterrada nos ombros,
lembrando o tio Fester da Família Adams, e era coxo de uma perna.
Como se já não bastasse essas raras características esquisitas, ele tinha
algum tipo de problema urinário. Em outras palavras, fedia a
mijo.
Você pode imaginar
que um cara assim, sofreria muito na escola, com o bullying
dos colegas, debochando dele o tempo todo, sendo excluido da turma e
tal. Não, nada disso. Ao contrário, era ele o que praticava
o bullying com os demais. Qualquer um era alvo dele, os
negros, os orelhudos, os magrelos, os altos, os baixinhos, os
sardentos, etc. Eu também não escapava das brincadeirinhas dele.
Como tinha barba e cabelo comprido eu era o Jesus Cristo, o Raul
Seixas, etc.
Sempre pensava no
porque disso. Por que os outros aceitavam os deboches dele? Um guri esquisito daqueles. Será que
ele era afilhado do dono da boca e todos o temiam? Mas não, não era esse o caso. Por que, então?
Minha hipótese é
de que aquilo era um tipo de ataque preventivo. Antes que zombassem
dele, ele já disparava a sua metralhadora de babaquice contra todo
mundo. Também podia ser um problema de autoaceitação, ou seja,
aquilo que ele odeia em si próprio, apontava nos demais. Seja o
que for, era muito chato.
Mas, pensando por
outro lado, quem sabe o preconceituoso não era eu? Que enxergava motivos para debochar do Leonandro quando ninguém mais via. Por que fariam isso? Quem sabe, os problemas
estavam em mim, não nele. Mas, assim como podemos dizer que ele não possuía nenhuma característica “naturalmente” bullyinível, – nem a perna renga, nem o fedor de mijo, nem nada –, será que alguém possui?