quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

DROGAS ESCOLARES


Existe muita discussão na sociedade a respeito do que é considerado droga ou não. Fala-se em drogas lícitas e ilícitas. Alguns defendem o uso medicinal de um tipo de droga, enquanto outros são executados ou encarcerados por vender essa mesma droga. O que para alguns representa um veneno, para outros é um santo remédio. Enfim, a discussão é interminável. O ambiente escolar não está de modo algum distante desse debate.
Lembro do Rael. Ele tinha 14 anos e estava no quinto ano do fundamental. Magrelo, boné enterrado na cabeça, olhos esbugalhados. Sempre me fazia a mesma pergunta: “Sôr, posso sair”? Rael não aguentava nem cinco minutos dentro da sala de aula, Para que ele suportasse meio turno, era preciso uma dose cavalar de um remédio de tarja preta, não sei qual. Às vezes, ele vinha à escola sem tomar esse medicamento, provavelmente por descuido da mãe, imagino. Algum médico o havia diagnosticado com algum transtorno psiquiátrico, déficit de atenção, hiperatividade, sei lá, e sem essas boletas era impossível a convivência dele em sociedade. Bom, ao menos nessa sociedade em que vivemos.
Eu não parava de pensar numa coisa quando estava com ele na sala de aula: Que porcaria que não é o sistema escolar, não? Um garoto de 14 anos precisa estar chapado para suportá-lo. Infelizmente, não só os alunos vivem essa realidade. Também muitos docentes lançam mão do uso desses medicamentos para enfrentarem a pesada rotina. São muitos os estudos que abordam esse tema.
Bom, voltando ao Rael, no ano em que trabalhei com ele (o único, graças a Deus), ele era o assunto principal das reuniões do conselho de classe dos professores. Uma dessas reuniões me ficou registrada na memória, pela pouca perspicácia de alguns colegas. Após mais um relato de caso de indisciplina de Rael na hora do recreio, e depois de todos os professores terem comentado diversos episódios do tipo em suas aulas, todos envolvendo ele, alguém levanta o seguinte questionamento: “Será que ele não usa algum tipo de droga”?
"Claro, a mesma que tu"! Foi o que me deu vontade de responder. Mas fiquei bem quieto. Qual seria uma resposta adequada para essa pergunta?

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