Existe muita discussão na sociedade a respeito do que é considerado droga ou
não. Fala-se em drogas lícitas e ilícitas. Alguns defendem o uso
medicinal de um tipo de droga, enquanto outros são executados ou
encarcerados por vender essa mesma droga. O que para alguns
representa um veneno, para outros é um santo remédio. Enfim, a
discussão é interminável. O ambiente escolar não está de modo
algum distante desse debate.
Lembro
do Rael. Ele tinha 14 anos e estava no quinto ano do fundamental. Magrelo, boné enterrado na cabeça, olhos esbugalhados. Sempre
me fazia a mesma pergunta: “Sôr, posso sair”? Rael não
aguentava nem cinco minutos dentro da sala de aula, Para que ele
suportasse meio turno, era preciso uma dose cavalar de um remédio de
tarja preta, não sei qual. Às vezes, ele
vinha à escola sem tomar esse medicamento, provavelmente por
descuido da mãe, imagino. Algum médico o havia diagnosticado com
algum transtorno psiquiátrico, déficit de atenção, hiperatividade, sei lá, e sem essas boletas era impossível a
convivência dele em sociedade. Bom, ao menos nessa sociedade em que vivemos.
Eu
não parava de pensar numa coisa quando estava com ele na sala de
aula: Que porcaria que não é o sistema escolar, não? Um garoto de
14 anos precisa estar chapado para suportá-lo. Infelizmente, não só
os alunos vivem essa realidade. Também muitos docentes lançam mão
do uso desses medicamentos para enfrentarem a pesada rotina. São
muitos os estudos que abordam esse tema.
Bom,
voltando ao Rael, no ano em que trabalhei com ele (o único, graças
a Deus), ele era o assunto principal das reuniões do conselho de
classe dos professores. Uma dessas reuniões me ficou registrada na
memória, pela pouca perspicácia de alguns colegas. Após mais um
relato de caso de indisciplina de Rael na hora do recreio, e depois
de todos os professores terem comentado diversos episódios do tipo
em suas aulas, todos envolvendo ele, alguém levanta o seguinte
questionamento: “Será que ele não usa algum tipo de droga”?
"Claro, a mesma que tu"! Foi o que me deu vontade de responder. Mas fiquei bem quieto. Qual seria uma resposta adequada para essa pergunta?
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