O fim de ano vem chegando e, na escola, sempre vem aquele
problema. Já não há mais o que fazer, muitos alunos já têm uma ideia segura dos
seus resultados, uns sabem que passaram, outros sabem que não, as principais
avaliações já foram feitas... não há muita motivação para ira a escola, se vai
apenas para “cumprir tabela”, realmente.
Num desses dias, como havia poucos alunos, numa turma de
sétimo ano em que eu estava, decidi aproveitar o momento para fazer algo
diferente, então propus uma conversa. Falaríamos sobre o que acharam do ano, o
que pensam fazer no futuro, esse tipo de coisa... uns toparam a ideia,
participavam bem, outros, só perguntavam se podiam ir para casa. E, assim,
levamos até o final.
Lá pelas tantas, questionei sobre o que achavam das minhas
aulas, se aprenderam algo importante. Um deles, disse que achava Geografia
importante para saber onde ficam os lugares, os países, etc. Então, perguntei a
ele, de que servia saber onde ficam os países?
– Ah, sôr, se a gente
quiser ir viajar, ir viver em outro país...
Nesse momento, pensei sobre quão inútil era eu e aquele meu
trabalho... pois, a conclusão que o menino havia chegado era de que ele só
aproveitaria um ano inteiro de aula de Geografia, se ele fosse viajar. Quantos alunos meus viajarão para outro país? Que aula mas inútil... Anotei
aquele problema para tentar me reinventar no futuro, precisava fazer aulas mais
úteis, meu papel não é o de um agente de turismo. Porém, aquele questionamento
havia mexido com outra aluna. E então, quando ela falou, o meu sentimento de
que meu trabalho não servia para nada, apenas se confirmou. As palavras dela
foram sinceras, e duras, me senti rebaixado ao nível de uma formiga.
A menina falou, de uma maneira natural, sobre como o que ela
aprendeu até aquele momento na escola, não havia lhe sido útil de forma alguma.
Segundo ela, em nenhuma entrevista de emprego perguntam sobre nada do que se
ensina numa sala de aula. Entrevistador nenhum quer saber dessas coisas que se
aprende em Língua Portuguesa, Matemática, Ciências e, principalmente, em
Geografia. Procurei questioná-la, mas não tentei defender o contrário. Pensei
que, se até aquela altura do campeonato, a escola ainda não havia convencido
aquela menina da sua importância, então não tinha muito o que eu fazer naquele
momento.
Mas, como que para colocar aquela cereja no bolo da discussão,
outra aluna comenta, com muita tranquilidade, sobre como seu irmão mais velho
abandonou a escola para traficar drogas. E, depois que já havia adquirido
algumas propriedades, imóveis, etc. decidiu que, então, já era hora de
largar essa atividade, um tanto perigosa, e viver dos aluguéis de suas casas.
Alguns colegas se impressionaram, outros criticaram... Mas, no fim, o irmão
dela era apenas um homem de negócios, não? Talvez as aulas de Matemática tenham o ajudado, quem sabe, mas Geografia, acho que não.
O que aprendemos com tudo isso? Com essas opiniões dos alunos? Acho que muito, mas só se
estivermos dispostos a rever nossos papeis.
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