“A greve é uma
coisa pessoal de cada um”!
Já escutei essa
pérola em uma dessas salas de professores da vida... Como uma
categoria de nível intelectual tão alto e que tem tantos direitos
atacados, é capaz de produzir pensamentos desse calibre?
Esqueça os
discursos sindicais, do tipo: “Nossa categoria é unida!”,
“Fizemos uma greve vitoriosa!” Isso não passa de blefe. Há anos
não vejo uma vitória convincente de uma luta de professores, há
anos não vejo união nessa categoria. Falemos francamente, não
procuremos mentir para nós mesmos.
Isso é uma coisa
meio paradoxal, pois nas escolas sempre há algum projeto que traz
como tema a “solidariedade”, a “união”, o “protagonismo”,
a “cooperação” ... Sempre se discursa para os alunos sobre a
importância de se lutar por um mundo melhor, de se exercer a
cidadania, etc. Porém, quando os próprios professores são chamados
a praticar todas essas ideias, coisas mais importantes aparecem: o
fim de semana na praia, o jantar no restaurante, a viagem marcada, as
compras no supermercado... tantas coisas... Tudo que dissemos se
transformam em palavras vazias.
Por que isso é assim? Difícil dizer. Apesar de sermos a categoria
de nível superior mais mal paga do Brasil, ainda pensamos que somos
de uma classe à qual não pertencemos, e tampouco nos querem nela.
Colocamos nossos filhos em escolas particulares, pois não queremos
que sejam como nossos alunos. Trabalhamos, às vezes, sessenta horas
por semana, para podermos manter uma empregada arrumando nossa casa,
pagar a taxa do condomínio fechado, para pagar a parcela do carro
novo, a mensalidade TV a cabo, enfim... Temos pavor dos alunos e suas
famílias, que vivem em terrenos “invadidos”, que tem ligação
direta de luz e assinam “gatonet”. Não queremos ser como eles.
Somos de mundo diferentes. Assim, talvez, acreditem alguns.
Quem sabe, quando
admitirmos para nós mesmos que temos muito mais em comum com as
pessoas que estão nas nossas salas de aula todos os dias, do que com
as que estão no comercial do Zaffari (uma rede de supermercados de
Porto Alegre), comecemos a agir de forma diferente.
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