Imagina você professor, professora, desenvolvendo sua aula e um
aluno perambulando pela sala, ouvindo música alta no celular,
rindo, mexendo com os colegas. Ele tem a mochila ainda nas costas,
porque abri-la para tirar o caderno e realizar alguma tarefa, está
fora de questão para ele. Pedir para que ele se sente tem o mesmo
efeito que falar com uma parede. Você procura atender os alunos
interessados, distribui folhas com atividades, passa tarefa para ser
feita no caderno, etc. Aquele cara zanzando pela sala não participa de
nada que você propõe. Você observa os seus alunos dia a dia, o empenho deles com a própria aprendizagem, a sua participação,
etc. e, então, no final do ano, você define que ele rapazinho da
mochila nas costas não terá a mesma avaliação que os demais, ele
não tem condições de seguir adiante. Outros colegas professores chegaram a essa mesma conclusão: o alegre moço da mochila precisa repetir
aquele ano, infelizmente, quem sabe ele se concentra mais no próxmo ano. Decisão tomada, batemos o martelo.
Seguimos adiante... Seguimos? Não. É que existe uma outra instância, maior
do que você que acompanhou o ano inteiro aquele aluno.
Essa instância é
o “cara da SMED” (Secretaria Municipal de Educação). Ele vai se
sentar com a supervisora da escola e vai perguntar sobre todos os
alunos problemáticos. E ele vai tomar conhecimento da situação
daquele mocinho e vai dizer: "Quero ver os trabalhos desse aluno".
A supervisora vai responder: "é... bem... ele não fez trabalho algum, os
professores não tem nada dele". O cara pergunta: "E esse aluno tem condições de aprender"? A supervisora conhece o aluno, sabe que ele tem condições intelectuais, apenas decidiu que não faria nada na sala de aula, então ela responde:"sim, ele tem". E aí, por “falta de provas” e pelo fato do aluno, aparentemente, não ter maiores problemas mentais, tipo confundir um elefante com uma borboleta, esse cara vai decidir, por cima da escola inteira, que
esse rapazinho vai passar de ano, sim senhor!
E, quando começar
o próximo ano letivo, estará lá ele, o carinha da mochila nas
costas, andando pela sala. Na mesma sala que os seus coleguinhas que
fizeram todos os trabalhos e demonstraram empenho durante o ano
anterior. Esses outros alunos olharão para ele e depois para você.
E a indagação no rosto deles será do tipo: “que merda ele tá
fazendo aqui”?
E você fará
para si mesmo, essa mesma pergunta. “Que merda EU tô fazendo
aqui”?
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